28.8.07

Passa de meia-noite. Penso que me acostumei de mais com o mar, vai demorar até que me acostume novamente aos horários da serra. Sono, praticamente nenhum. Arrumações sem fim. Lembro então que estou na mesma cidade que os amigos, isso é bom. Família e amigos... o céu tem ficado claro e os dias quentinhos, isso também me anima. Ouso Drosóphila incessantemente e gosto a cada hora mais. Sinto falta da "minha casinha", mas ela já não é mais minha, nem adianta chorar ou alimentar rancores. Estou de volta ao meu quarto, e ele é meu, mais que qualquer parte da casa. Me deram, a quase 27 anos, esses 3X3m pra dormir, brincar, desenhar, dançar, chorar e rir. Então hoje mudei os móveis de lugar. De volta ao lar, mas com cara nova.

23.8.07

Vontade escrever posts que rimam amor com dor e flor, ou qualquer outra coisa brega e sem sentido.
Também não sei porque comecei com essa frase, isso é ainda mais sem sentido. Talvez - quase com muita certeza - quem esteja sem sentido seja eu. E isso não é nada fácil de admitir. Dói no corpo, como tapas, chutes, socos. Quando a dor emocional dói no corpo, pelo menos a minha, é porque as coisas estão realmente feias!
Minha mala está pronta, mais uma vez. Agora vou em busca do espaço que sempre quis, da amplitude, da desarrumação. Sempre precisei de espaço pra viver, talvez mais que outras pessoas.
Cresci em um quintal grande, um sítio. Morei em uma casa espaçosa, até descer a serra em busca do conhecimento e da felicidade na "Corte". Feliz eu fui, mas fiquei sem meu querido espaço. Apartamentos divididos com estranhas, quarto dividido com anônimas. Mas eu vi o horizonte, por bons e difíceis sete anos. Aí não deu mais. Não deu pra ficar com a asa amarrada. Não deu pra engolir sapos. Não deu pra superar tudo só pra continuar morando na Cidade Maravilhosa.
Estou à deriva. E a maré bate forte, muito forte. Talvez por isso eu sinta dores. E percebendo que não é o meu grande momento de navegação, retorno ao porto mais seguro, esperando poder abrir de novo minhas asas, nesse quintal grande, nessa casa espaçosa.

14.8.07

Há quem goste desse mundo. Pessoas me pareceram sempre estranhas. Eu sou estranha e vejo o mundo de forma estranha. Não me reprimo por isso, não agora!
Talvez eu devesse ser mais adaptável. Não sou. Talvez a arte me tenha feito sensível de mais e tolerante de menos. Leio sobre Renoir pra descansar, mas nem sempre adianta. Talvez piore. Um mundo impressionista se cria ao meu redor. Sensações e sensações e impressões.
Preciso criar. Dedilhar minhas contas, acariciar meus tecidos, observar minhas linhas. Me prendi nesse mundo, mas ele não é meu, não. Penso penso penso e concluo que, por quase três anos "me obriguei" a fazer algo que não gostava, agora, imersa em tantas tarjas pretas, quero ter o direito de trabalhar meu prazer.
Sou cria de uma Escola que me ensinou Belas Artes. Quero pratica-las.

6.8.07

Eu vi o sol nascendo por traz da Candelária, isso ninguém pode me tirar.
Criei exposições de desenhos no meu quarto amarrando barbantes e pendurando as folhas com pregadores de roupas, e isso é meu, ninguém pode tirar.
Chorei na adolescência pela incompreensão por minhas cores, mas cresci e as pude ter comigo.
Estudei na primeira Escola de Belas Artes do Brasil, e esse orgulho é meu, só meu.

Agora aqui, perdida. Recordo orgulhos passados, questiono orgulhos futuros.
É uma pena que não se adiante chorar por não ter nascido nos anos 50. Não só pela estética, que muito me agrada, mas pela facilidade de se ser mulher naquela época. Já tive muitos momentos em que glorifiquei todo esse avanço feminista, hoje, em especial, gostaria que a expectativa da mulher contemporânea continuasse a ser casar, ter um bom marido, filhos e uma casa pra cuidar.

2.8.07

O que será de nós com esse racismo velado? E mesmo que não seja racismo, já que há toda uma discussão sobre o conceito de raças. O que fazer e como fazer pra acabar com isso?
Não há um negro no Brasil que nunca tenha sofrido preconceito pela cor, se pensa que não, foi porque simplesmente não percebeu.

"Não, não sou babá dessa criança. Ela é minha prima, sua mãe é minha tia... qual o seu problema, tá achando que nasceu na Europa? Isso aqui é Brasil meu amor, negros, brancos, loiros, verdes, todos na mesma família, todos vindos da mesma origem."
Eu realmente poderia ter respondido assim a vizinha da porta em frente, mas sorri, olhei bem na cara dela e disse: "não, sou sobrinha", à resposta mais corriqueira quando se percebe a constante presença de um negro na casa de um branco bem sucedido: "Você é babá da menininha? Trabalha pra fulana?"

Realmente não deveria mais me ofender com isso. Talvez nem me ofenda tanto mais. Com o tempo, depois de sair correndo, chorar, baixar a cabeça e calar, quando me deparo com essa gente, faço a minha melhor cara de Beyoncé, viro as costas e vou embora!