25.10.08

Quando me disseram que a proposta era fazer uma oficina de maquiagem, pintar as crianças de curupira, saci... eu juro que não me animei. "Sábado?!" Mais um vendido.
Mas hoje, de 8 as 17h, eu me diverti mais que a grande maioria das crianças que passaram pela nossa "tendinha". Teve curupira com vergonha de pagar mico (veja só, uma criança de 6 anos com vergonha do mico!!!), saci mastigando o cachimbo, outro com preguiça de pular de um pé só... e teve maquiagem de borboleta, gueixa, nega maluca, tatuagem e desenhos dos mais variados nos nossos braços...
Bem, as crianças tinham que ser personagens folclóricos, mas nós podíamos ser qualquer coisa por trás do pano preto! E fomos! Quatro meninas, estudantes de arte, com tantas tintas coloridas e pincéis em um dia de crianças tímidas e escassas, não poderia ter outro resultado
= bagunça!

18.10.08

- E o Pogobol?
(nosso assunto, na única grande conversa até hoje, foi sobre brinquedos dos anos 80.)
- Pois é! eu ainda não tive em Friburgo com calma pra procurar... ver o estado dele!
- Eu tava pensando nisso.
- Ahn!!!???
- É, no nosso campeonato de Pogobol!
(sim, nós planejamos um campeonato pra ver quem desceria mais rápido os oito andares de escada do prédio da Reitoria, no Fundão!)
- rsrsrs

pausa

- E a menina do rabo?
- Hahahaha. Sabe que ela vende aqueles estojos numa feirinha em Santa Teresa!? Eu já vi!
(outro assunto nosso, uma menina da EBA que andava com um rabo de dragão pelos corredores. Era pura propaganda, ela vendia estojos no hall dos elevadores.)
- Eu sempre fico pensando nisso...
- Em que???!!!!!!
- Em você falando da menina do rabo.
(peraí, fica pensando em mim falando da menina? Já tinha dito antes que pensa no meu Pogobol, sem nenhuma piadinha sobre isso, por favor, e pensa em mim verbalizando opiniões sobre a menina do rabo? Tá pensando muito em mim!!! Isso é bom! rs)

...

- Já viu Estamira?
- Que???
- É um documentário sobre uma louca que é líder dos catadores do lixão de Gramaxo...
- Sério?
- Pois é!!! ... Eu tenho medo de malucos!
- Hahahaha! Minha namorada faz enfermagem, ela estagiou no Pinel, disse que era muito doido...
(o restante da frase não teve mais a mínima importância. "Minha namorada" ecoava em meu ouvido!!!)

...

- Que feio! Não tirou o som do celular! rs
- Pois é...! Uma mensagem... Crime gravíssimo!!!
- Vou aproveitar pra tirar o som do meu... olha minha namorada! Ela é gordinha, fofa!
(eu olhando aquele visor de celular e pensando: "que falta de consideração! Isso é coisa que se faça com uma menina em dieta!? Eu tô vivendo a base de farelo de trigo e ele vem me falar que a namorada é gordinha? Fofa? Gordinha o caralho, ela é uma Gorda Mor!!! Mas eu sorrio. Daí beleza, tem namorada? Eu me recolho e a gente continua conversando.)
- Lembra de... (algum desenho dos anos 80)?
- Não!
- Mas é da sua época!!! rsrsrs
- O que você quer dizer com isso? rs
- Não ! É da mesma época do Pogobol... sei lá! Você tem cara de ter uns 26 anos...
- A é!? hahahaha
- Tem quantos? Acertei?
- Tenho 28. Acabei de fazer na verdade... é como se ainda tivesse 27!
- Então, quase acertei!
(e abre um sorriso, com as bochechas vermelhas, denunciando o assunto plantado pra poder descobrir minha idade!)
muita aula depois, risos depois, esporros da professora, nele, depois, a fome vai chegando...

- Vai almoçar no bandeijão?
- Vou.
- Será que essa hora já tá cheio?
- Acho que não, sexta é tranquilo... o negócio ferve na quarta!
- É? Então você vai almoçar lá hoje?
- Vou, eu sempre vou.
- Então vamos almoçar juntos?
(cuma???????)
- Vamos ! Eu sempre vou com as meninas (Cristiane e Rejane, que também fazem essa matéria).
- Então beleza.. que aí a gente continua conversando... a carne de lá é meio duvidosa ?
- , não sei, eu não como carne!
- ... eu também não como muito...
- rs
- Mas olha só, vou ter que ir no sétimo, no CAEBA... você vai mesmo ? Posso chegar e furar a fila com você?
- Pode... vai lá. Daqui a pouco eu vou pra fila.
- Então beleza.

Ele não apareceu. Talvez a namorada fofa tenha ligado e ele se lembrou que ela existia! Hahahaha

11.10.08

Eu vendo alguns dos meus sábados por dinheiro. Fico me sentindo uma grande puta, deixando que façam comigo quase o que bem quiserem.
Eu vendo os meus sábados por poucos reais, não tão absolutamente poucos, mas por muito menos do que eles valem. Menos do que valem meus sábados de chuva, menos ainda do que valem os meus sábados de sol.
Hoje eu vivi mais um sábado vendido, saído de casa às 7 e retornado às 15h. Num calor inacreditável depois de tanta chuva. O retorno imediato? O cansaço. Mas, como toda boa venda, num capitalismo filhadaputa como só pode ser, eu vou vendendo meus sábados pra juntar dinheiro. Dinheiro pra comprar uma máquina de costura que faz um ponto mirabolante, que costura malha, que faz coisas incríveis, que eu tenho vontade ter a muito tempo.
Então reclamo mais sorrio. A hipoteca dos meus sábados vai me trazer um owerlok (é, a tal máquina fantástica) e isso não me faz sentir menos vendida, só mais consumista! :))

2.10.08

Minhas memórias de infância ficam em outra casa que não é esta daqui. Ficam num universo distante, onde aniversário era sinônimo de painel colado na parede da varanda, preso com muitas rodinhas de fita crepe.
No universo distante dos aniversários de 3 de outubro, a casa amanhecia diferente. Naquela manhã eu já sabia que, em alguns casos, por muita insistência nos dias anteriores, talvez eu pudesse faltar aula. Sabia que a madrinha da minha irmã emprestaria um daqueles painéis enormes das festas ricas da cidade, que ela sempre decorou, pra minha mãe colar na parede da varanda e enfeitar uma mesa pra colorir também a minha festa. Sabia que se, por muito azar minha mãe não me deixassem faltar aula, iriam cantar “com quem será” na escola e eu odiaria tudo isso.
Via a casa sendo limpa e as toalhas de mesa e paninhos dos móveis sendo trocados. Então esperava o dia anoitecer, colocava uma roupa boa, que às vezes vovó fazia pra mim, e esperava as pessoas chegarem com os presentes, porque, sem hipocrisia, eu queria mesmo era que tivesse muita criança e muito presente! Pra minha mãe eu pedia sempre o último disco da Xuxa, e sempre ganhava.
Os discos eram tocados enquanto eu corria até ficar completamente suada, descabelada e descomposta. Minha mãe me chamava num canto, tentava me arrumar, e aglomeravam-se as pessoas em volta da mesa pra cantar “Parabéns”. Doida pra que aquilo acabasse logo, eu só esperava pelo momento de finalmente comer os docinhos!
Então todos começavam a ir embora. Eu re-revirava os presentes e os separava por categorias - roupas, meias, canetas, brinquedos – desocupava a cama, isso significava enfiar tudo de qualquer maneira no guarda-roupa, olhava tudo bagunçado mais uma vez, e dormia.
No meu mundo real e atual eu não falto mais aula, não todos os anos, não vejo o dia amanhecer diferente nem colo painéis nas paredes. Eu acordo sozinha, tomo banho e vou fazer o que tiver pra fazer. Às vezes fico triste e noutras acho que tá bom assim. Nesse ano eu não vou fazer bolo e comer sozinha, como já fiz muito, e não o farei porque os doces me foram proibidos, mas porque não faz mas sentido algum comer bolo em casa me achando a pessoa mais solitária da terra.
Se Deus existe, nesses últimos 12 meses ele decidiu assoprar purpurina em mim. Por mais desanimada que fique, tenho tido muitos motivos pra acreditar que no fundo do meu poço tem uma mola muito grande, que de tão comprimida me projetou pro alto com muita força.