14.4.10

Minha aula de fotografia é as segundas mas eu sempre faço os exercícios propostos no fim de semana. Só mesmo quando vai chegando perto eu lembro, e tenho vontade, fotografar as propostas. Na minha turma as pessoas tem máquinas fodonas, dessas grandes, com obturadores ninjas, lentes com nomes bonitos. Eu nem tenho máquina. Minha mãe quase não, praticamente nunca, usa a dela então deixa comigo aqui no Rio. Quando eu comecei o curso minha irmã disse que o que já era ruim ia ficar ainda pior. Meus amigos devem concordar.
Eu gosto da máquina. Gosto de tentar. Quando criança, lembro que um filme de 36 poses durava quase um ano na minha casa. Não se fotografava de brincadeira porque o filme era caro, a revelação era cara e porque máquinas não são brinquedos de criança. A primeira digital que eu coloquei a mão era do Nando. Não tinha visor, mas um contador de fotos, quase como uma analógica. Era linda. Quebrou. Depois foram aparecendo as máquinas na família. Uau! Dá pra ver e escolher sem precisar levar ao laboratório e pagar por isso?!!!
No final de 2006 minha mãe comprou essa que eu brinco até hoje. A gente passou o ano inteiro pagando uma viajem-jornada de ônibus saindo de Friburgo rumo a Buenos Aires passando por Foz do Iguaçu, Ciudad del Leste e Montevideo, sem contar o Chuí, dos piores lugares que eu já estive, e não poderíamos, ou queríamos, fazer tudo isso com uma maquina analógica, correndo o risco de o filme não correr, das fotos se sobreporem, de o filme queimar... ok, resultariam em lindíssimas fotos artísticas, mas não era isso que se a gente queria. Simples e boas fotos documentais era tudo que se buscava. Ela voltou com dois cartões cheios e eu sem alguma parte de mim. Talvez eu tenha nascido no país errado. Surtei e fiquei mal por bastante tempo.
Hoje, por sorte ou mérito – a analise me serve também pra acreditar que eu mereça minhas conquistas – eu tenho bolsa pra fazer um curso de fotografia em uma das escolas de arte mais respeitadas do país. “Gente, vale a pena investir em uma boa câmera!”. Eu também acredito muito nisso, meu bolso é que não concorda muito, pior, ele já nem tem mais voz. Com essa Kodak “antiguinha”, pois é, me disseram que a minha máquina é velha, que fica guardada em uma capinha de camelô, eu fotografo e levo as fotos num pen drive pra aula. “Seria bom se você imprimisse algumas...”. Sim, algum dia vou poder pagar por isso sem calcular se R$5 vão me fazer falta pro ônibus depois. Sorrio. Eu gosto das minhas fotos mas muitas vezes tenho vergonha de mostrar. Eu tenho vergonha de me mostrar. O meu pen drive só tem 1G, minha única viagem internacional foi pra Argentina e minha câmera é uma Kodak de 2006. Eu não sou “bem nascida”, tenho quase 30 anos e não casei, não tenho filho, nem carro nem emprego. Isso não era pra ser um texto de lamentações. Chega de escrever por hoje.