1.8.06

relicário

Nesse domingo de chuva, no (não sei se é centro cultural, espaço cultural, sala de exposições ou qualquer outra coisa do tipo) Laurinda Santos Lobo, estava com Mani vendo uma expo de fotografias quando ouvimos uma mulher dizer que no primeiro andar do casarão ia começar uma peça de teatro e que não pagava nada pra assistir. Fomos.
Música boa, peça estranha, começo estranho. Entra em cena então uma caixinha de música, exatamente igual ao único presente que ganhei de dia dos namorados em toda minha vida. A partir daí, peça, texto, cenas, interpretações, tudo ficou em segundo plano. A breve história entre Juninho e eu, minhas expectativas, dores, amores dos 16 anos foram vindo à tona.

Lembro de estar mal por ter terminado com Isac, mesmo já tendo passado quase 2 meses, de ir pra escola naquele ônibus em que quase todo mundo se conhecia e que, num certo ponto, entrava, todos os dias, aquele menino bonitinho. Sempre de jaqueta jeans, parecia mais velho que a gente (eu, minhas primas e o pessoalzinho que a gente ia conversando). Pouco tempo depois, numa festa de Santo Antônio - sei que é bizarro ir a festas de santo, igreja... mas com 16 anos acho que eu não tinha muito senso de ridículo! - ele chega, conversa comigo muito tempo, diz que se chama Maurício mas acha que é nome de advogado sério (????????) e que prefere ser chamado de Juninho. Não fiquei com ele naquela noite e me senti uma menina dos anos 50, namorando só de mãos dadas. No dia seguinte a gente se encontrou na mesma festa e então tudo começou. Ele era mesmo mais velho, tinha 23 e me levava todos os dias até a porta do colégio. Fim-de-semana a gente dava uma volta na rua e eu voltava cedo pra casa. Isso durou um mês, apenas um. Eu terminei porque Isac reapareceu e eu ainda gostava dele. Mas nesse um mês teve o dia dos namorados e, como a gente se conhecia a pouco tempo, não comprei nada pra ele, mas ganhei uma caixinha de música! Não era linda nem fiquei loucamente feliz ou emocionada, mas era meu primeiro presente de dia dos namorados e, mal sabia eu que, mesmo passados quase 10 anos, ainda seria o único, já que meus namoros, casos, ou qualquer coisa do tipo, nunca resistem ao mês de junho!
Lembro que ele chorou quando eu disse que queria terminar porque ainda gostava do meu ex e iria voltar pra ele.
A caixinha de música? Parou de tocar, estragou, a bailarina que rodopiava quebrou o braço, a corda acabou, sei lá! Deve estar no fundo de alguma gaveta, assim como estavam essas lembranças até aquela atriz, com aquele vestido preto e aquele batom vermelho usar como objeto de cena aquela caixinha de música.