2.11.09

Não faz muito tempo o fim de ano em Rio das Ostras era a época mais esperada. Nós separávamos as roupas, ainda em Friburgo, por pares e por dias. Existia uma calcinha da sorte, que só a gente sabia que era e que ninguém, absolutamente ninguém via, mas era mantida como amuleto para atrair o menino mais esperado da noite (na total inocência).
O ano passava em Friburgo, fim de semana após fim de semana, a espera do verão a beira mar, onde veríamos as mesmas pessoas dos fins de semana comuns misturadas aos cariocas e aos riostrenses amigos. No carnaval, a terça feira tinha sempre uma roupa melhor que os outros dias, “terça é o melhor dia, por isso a melhor roupa!” a gente não tinha dúvida disso.
A família ia se preparando pra dormir. Nós tomávamos banho enquanto vovó passava a nossa roupa sobre a cama, passávamos a maquiagem e íamos pra rua, de van ou no carro do pai que quisesse nos levar.
Nada era melhor que a rua do shopping. Dudu sempre lá com os outros “punks” amigos de vista, o falso Marco Túlio e seus óculos fundo de garrafa, o pastel de frango com catupiri do Paradinha, a rua do Laranjinha e a fuga dos caras que não pegavam ninguém até a “hora do desespero”, lá pelas 3 da manhã.
Nada era mais divertido do que passar o verão inteiro com Carla, todas as tardes no Costa Azul, as noites na rua do shopping e as manhãs seguintes rindo ao lembrar dos feitos (ou não) da noite anterior.
A gente cresceu e a rua foi ficando sem graça. Os meninos sumindo, os adolescentes (que já não éramos mais) invadindo nosso espaço, as vagas pra colocar o carro diminuindo, as exigências aumentando mais e mais.
Hoje a gente nem fica mais o verão inteiro juntas. Eu fico muito no Rio, ela muito em Friburgo, eu fui ficando chata e depressiva, ela foi tendo outros amigos, outros gostos.
Mas ontem eu passei pela rua do shopping lá pelas 9 da noite e vi as pessoas chegando arrumadinhas e de banho tomado e foi impossível não sentir muita saudade da risada da minha prima, que nem ruiva era nessa época, e que sempre foi a melhor companhia pra sair que já tive.