7.4.06

"... estou podando o meu jardim"

Ela tenta de todas as formas pensar em qualquer outra coisa que não seja ele. Faz um esforço descomunal pra esquecer que ele existe mas, por vezes, na maioria das vezes, parece inútil. Não é mais aquilo tudo que era antes, não tem mais todos aqueles frios na barriga tão bem quistos em algumas situações. Ele parece esquecido até que o rosto lhe apareça na mente. Ela passa os dias ouvindo Marisas Montes e Los, muitos los, Hermanos. Já nem sabe se é melhor ou pior. "Essas músicas sabem de mais"! Passa a interrogar todo e qualquer barulho musical, todo e qualquer pensamento mais longo, toda e qualquer lembrança mais prolongada. E pensa, afinal, "quem manda nessa porra de cabeça e nessa merda de pensamento"!? Sendo ela própria, se auto-ordena a não mais pensar naquele cara que, reparando bem, lembrando bem, não era nada legal, nada gentil, nada carinhoso, nada bonito, nada de nada. Se são tantas inqualidades, se ela sabe de todas elas, de todas que foram elas junto com ela, se isso foi e é tão dolorido ainda, por que será que ainda se lembra dele? Sente então medo que alguém descubra. Chega a ser imoral ainda pensar em alguém que a fez sofrer tanto. Então nega a si própria que esses pensamentos existam. Tenta ver a situação de fora. "É mesmo ridículo"! Então disfarça bem. Ninguém nem ao menos suspeita que ela ainda sofra por isso. Sofre ao pensar que ele pode reaparecer, retelefonar, repetir tudo. E tem certeza que não deixaria nada acontecer, nada de novo, nada de velho, nada de nada. Então dorme. A noite é curta e amanhã mais uma batalha lhe espera, pois a expressão "tem que se matar um leão por dia" nunca fez tanto sentido como agora.